quarta-feira, 27 de junho de 2012

300 anos do nascimento de um clássico


 
Hoje, 28 de junho de 2012, comemoramos o tricentenário do nascimento de Jean-Jacques Rousseau, o pensador genebrino que deixou um rico legado intelectual pelo qual continuamos a nos interessar em pleno século XXI. Sem dúvida, vários de seus textos tornaram-se clássicos, e uma das melhores homenagens que podemos fazer ao autor é lembrar os motivos pelos quais, nas palavras de Ítalo Calvino, livros como os dele atingem esse status especial:


  Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo..." e nunca "Estou lendo...".
 

Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los.


Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.


Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.


Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.


Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.


 Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).


 Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente a repele para longe.

 Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.


Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs.


 O "seu" clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.


Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.


É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo.


É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.



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