Evaldo Becker*
Michele Amorim Becker**
O
ensaio fotográfico “Caminhos de Rousseau” apresenta alguns dos principais
lugares pelos quais passou o filósofo genebrino Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778), considerado como um dos maiores pensadores do século XVIII. As imagens
publicadas no Grupo Interdisciplinar de Pesquisa Jean-Jacques Rousseau (GIP
Rousseau) foram extraídas da exposição fotográfica homônima ocorrida entre os
dias 14 e 22 de junho de 2011, no Hall da Reitoria da Universidade Federal de
Sergipe, durante o V Colóquio Nacional Rousseau. Esta mesma exposição ganhou um
caráter itinerante ao integrar a programação da Semana Nacional de Ciência e
Tecnologia, em Sergipe, em outubro do mesmo ano. Finalmente, uma primeira
versão do ensaio fotográfico, ora apresentado, foi publicada na Revista
Candeeiro, no vol. 19 e 20, ano 2011.
Como se
trata de um caminho, este ensaio seguirá a sequência cronológica das cidades
percorridas pelo caminhante solitário, começando por Genebra, Suíça, berço do
filósofo. Em seguida, apresenta imagens da cidade de Paris, França, onde
Rousseau viveu e onde se encontra o seu túmulo. Depois, oferece imagens de
Montmorency, França, onde Rousseau permaneceu entre os anos de 1756-1762 e na
qual desenvolveu boa parte das principais obras literárias e filosóficas, tais
como: A Nova Heloísa, o Emílio e o Contrato Social. Finalmente, expõe imagens do Parque Rousseau em
Ermenonville, França, último refúgio do filósofo e na qual o mesmo veio a
falecer em 1778 e onde ficaram seus restos mortais até serem transferidos pelos
revolucionários franceses ao Panteon, em Paris, no ano de 1794.
As imagens aqui expostas são de
autoria de Evaldo Becker e Michele Amorim Becker e foram capturadas entre março de 2006 e fevereiro de
2007 durante o estágio de doutorado do Prof. Dr. Evaldo Becker, realizada junto
à Equipe J.-J. Rousseau, da Universidade de Paris IV - Sorbonne.
A república calvinista de
Genebra é sem dúvida uma das cidades mais importantes na vida de J. -J.
Rousseau, pois foi o local onde o filósofo nasceu, em 28 de junho de 1712, e
onde viveu sua infância imerso nas leituras de Plutarco. Após se auto-intitular
“Cidadão de Genebra”, Rousseau escreve no Discurso
sobre a desigualdade: “Pudera escolher o local de meu nascimento [...]
teria desejado nascer em um país onde o soberano e o povo pudessem ter um único
e mesmo interesse”.[1]
Aos 16 anos, Rousseau deixa Genebra e atravessa o Jura rumo à França.
Após trabalhar como
preceptor dos filhos da família Mably, em Lyon, Rousseau chega à Paris em 1741-1742,
decidido a fazer sucesso na cidade símbolo do Iluminismo francês. Segundo relato
exposto em suas Confissões, Rousseau
passeava todas as manhãs pelo jardim de Luxembourg com um exemplar de
Virgílio no bolso. A imagem retrata também o modelo cartesiano de jardim
francês, com linhas retilíneas e bem definidas, onde a arte humana molda a
natureza a seu bel prazer.
MONTMORENCY
Após participar juntamente com Diderot e D’Alembert do movimento enciclopedista; e depois de ter-se lançado como escritor; Rousseau, cansado do mundo de aparências de Paris que em seu entender já não passava de um “mar de vícios”, ruma para Montmorency, em 1756, vilarejo ao norte de Paris, a convite da Mme. D’ Epinay, e instala-se na Ermitage, propriedade rural localizada em meio à floresta. Em 1757, rompe com Mme. D’Epinay e Diderot e muda-se para a casa do Mont-Louis. Local que atualmente abriga o Museu J. -J Rousseau.
Na casa do Mont-Louis Rousseau e Thérèse Levasseur
viveram bucolicamente por vários anos. É neste local simples que o filósofo
desfruta do seu período mais produtivo. Isolado em seu Donjon, ele escreve sua Carta
a d’Alembert, o Contrato Social, o Emílio, a Nova Heloísa
e outros textos. Em 1762, após a condenação do Emílio pelos padres da
Sorbonne e pelo Parlamento de Paris, que será seguido pela condenação do Contrato
Social em Genebra, Rousseau foge de
Montmorency. Começa então um longo
período de exílio, passando por Berna, Neuchatel, Inglaterra, Lyon, Paris...
ERMENONVILLE
Após longos anos de uma vida errante, Rousseau aceita o convite do Marquês de Girardin para instalar-se em sua propriedade, onde seria construído um anexo ao castelo, no qual o filósofo poderia desfrutar de paz, tranquilidade e independência. Rousseau chega a Ermenonville em maio de 1778 e encontra um asilo seguro e bucólico no qual pôde se dedicar à botânica e aos seus passeios em meio à natureza.
O castelo de Girardin é cercado por um imenso jardim
que segue o modelo inglês, preferido pelo filósofo, e que foi construído
segundo as descrições feitas por ele na sua Nova Heloísa. Neste jardim,
a arte humana é disfarçada e imita a natureza em caminhos tortuosos e
irregulares, nos quais a imaginação alça voo. O Templo da Filosofia é uma das
mais belas construções que estão espalhadas pelo atual Parque Rousseau. Ele
permanece inconcluso, evidenciando a própria incompletude que caracteriza o
exercício filosófico, que não pode dar-se por acabado sob pena de
dogmatizar-se.
FIM DO CAMINHO
Rousseau morre no dia 2 de julho de 1778, após poucas semanas de estadia neste que foi seu último e talvez o mais aprazível dos refúgios. Ele é sepultado em meio ao lago do parque, na Île de Peupliers (Ilha de Choupos). É neste local idílico, em meio à natureza, que seu corpo permaneceu até o ano de 1794. Apesar dos protestos de Girardin, os restos mortais deste filósofo cosmopolita são transferidos ao Panteon, no centro de Paris, onde permanece sepultado em frente ao túmulo de seu arqui-inimigo Voltaire. Por suas ideias de liberdade e igualdade, Rousseau torna-se um dos grandes inspiradores da Revolução Francesa. É por este motivo que os revolucionários celebram sua memória neste local que abriga os grandes heróis da pátria francesa.
* Pós-doutor em Ética e Filosofia Política pela
Universidade de São Paulo, Professor de Filosofia Moderna do Departamento de
Filosofia da Universidade Federal de Sergipe (NEPHEM/UFS).
** Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal
de Sergipe. Mestre pelo mesmo Programa. Graduada em Jornalismo pela
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
[1] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens. Tradução de Iracema Gomes Soares e Maria Cristina Roveri Nagle.
Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Ática, 1989, p. 29.
Uma grande viagem. Parabéns!
ResponderExcluirNossa ideia é dar continuidade ao projeto "Caminhos de Rousseau", percorrendo novos caminhos e possibilitando aos alunos do ensino médio, gradução e pós-graduação essa experiência. Nem todos têm acesso aos lugares e as informações que tivemos... é o papel do pesquisador, independente da área que atue, democratizar o conhecimento.
ResponderExcluirDevemos nos utilizar dos mecanismos disponíveis (fotografia e internet, por exemplo) para publicizar nossos estudos.
Michele
Parabéns pelo trabalho oportuno, inteligente e enriquecedor, pessoas qualificadas, como os senhores, são sempre bem vindas, principalmente na UFS.
ExcluirOi, Michele!
ExcluirFiquei muito contente em conhecer o grupo através do blog. Estou desenvolvendo meu pré projeto para mestrado e é sobre Rousseau...espero que eu passe! Boa sorte e parabéns pelo trabalho!
Parabens , obrigado !!!.Achei facinante .
ResponderExcluirMuito boa essa viagem, gostei de verdade.
ResponderExcluirRousseau e Voltaire frente a frente!
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho!